29 de maio de 2004

Jazz in Rio

«Jazz no País do Improviso!» nada tem contra o Rock in Rio, antes pelo contrário. Reconhecemos a este festival uma mística e uma capacidade propagandística de Lisboa e por isso desejamos-lhe as melhores felicidades e casa cheia!

E o que é que isto tem a ver com jazz?

Tem alguma coisa.

Primeiro, porque os apoios da Câmara Municipal de Lisboa terão sido projectados em função de uma audiência média de 150 000 pessoas. Porém, ao que a comunicação social tem noticiado, este número está longe de ser uma realidade, tendo Paul McCartney ficado pelos cerca de 40 000. Ao que parece, estamos aqui perante alguns erros de casting. McCartney é uma figura lendária do rock mas a geração que o idolatra não é propriamente o público-alvo deste festival, habituada que está a concertos com lugares sentados e outras comodidades.

Segundo, porque a ser assim, a questão das audiências não pode ser nem deve ser primordial no apoio camarário aos projectos porque de facto ninguém consegue actualmente garantir casas cheias por antecipação.

Tudo isto para dizer que «Jazz no País do Improviso!» não percebe por que razão Lisboa continua sem ter um festival de jazz, como tantas outras capitais europeias. Um festival de jazz bem projectado, com prestígio e qualidade pode atrair para Lisboa um segmento de turistas com forte capacidade de investimento, resultando em mais valias para a hotelaria e restauração, ou, pelo menos, proporcionar a este segmento uma estadia mais enriquecedora e com maior opções para uma vida nocturna que não está pensada para pessoas acima dos 40 anos.

Mais, Lisboa tem espaços únicos e ideais para servir de cenário a bons concertos de jazz, nomeadamente à beira do Rio Tejo, e que estão totalmente desaproveitados. Cenários que permitiriam aos turistas desfrutar do património da cidade e do seu rio de outra forma e por outro prisma.

É caso para dizer, onde está o Roberto Medina do Jazz?

Se puder apareça, porque aqui por Lisboa ninguém parece conseguir motivar a CML para um projecto de qualidade.

É verdade que o Jazz não atrai tantos patrocinadores como o Rock In Rio: não vende tanta cerveja e outras coisas..., não pinta cabelos com as cores do Millenium (cruzes, credo!), não chama o jet set, não despacha tanto merchandising, etc. Ah, e não tem disc-jockeys a tocar! Mas, desde quando é que um disc-jockey toca o que quer que seja? Põe música e é quando o que põe é mesmo música...

Já agora, por que será que na tenda raízes jazz fora nada?

Para mim, Rock In Rio era Miles Davis versão eléctrica, a partir, ou a banda de Marcus Miller, sem concessões. Loud and heavy! E depois assim um Charles Lloyd, um Pat Metheny, um Garbarek. E para igualar o dinossauro McCartney podia vir Lou Donaldson ou Clark Terry.

Uma nota final para mostrar preocupação pelo caminho que a música leva, ainda a propósito dos disc jockeys. Parece-me que as novas gerações, ao idolatrar estas personagens, começam a 'matar' os músicos verdadeiros, preferindo o plástico ao real. E o real são músicos a tocar com os seus instrumentos, a criar canções novas, a fazer evoluir a música, a interagir com o público, a exprimir os seus sentimentos, emoções e preocupações. Podem ser os U2, os James, os Simply Red, os Supertramp, o Kravitz, o Sting ou outros quaisquer. Mas que sejam músicos, melhores ou piores, com mais ou menos sintetizadores, com mais ou menos ajudas para compor o produto final. Cada um, ao escrever e interpretar canções, está a comunicar. Os DJ limitam-se a regorgitar produtos e a falta de conhecimentos que têm de música raramente lhes permite acrescentar algo que seja verdadeiramente interessante. Estão para a música como certas instalações estão para a arte: todos achamos que faríamos igual ou melhor e só não fazemos porque não lhes reconhecemos qualquer ponto de interesse que valha a pena o tempo que teríamos de perder a instalar as ditas cujas.


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