23 de agosto de 2004

Os holandeses são amigos do povo de Portugal!

Acabadinho de chegar da Europa (onde há centros de saúde dignos desse nome, estradas bem sinalizadas, hospitais que parecem hotéis, rampas para acesso de deficientes motores aos edifícios, etc.. etc...), depois de uma curta estadia na Galiza, «Jazz no País do Improviso!» ligou a malfadada televisão (para não utilizar outra expressão) e logo surgiu, crepitando no ecran, a primeira notícia deste nosso país:

- Um barco holandês estás prestes a chegar a Portugal para praticar abortos em mar alto.

Não sei nada da história porque entretanto, mesmo sem embarcar nesse romance, fiquei de imediato com náuseas e decidi dar asas ao intelecto e encontrar resposta para o porquê de tal operação.

Ora, nada como estar fora do nosso cantinho para perceber a chave de certos enigmas. Não será que a Holanda, vendo o estado deplorável em que vivem certos portugueses (sem consultas, com eternas filas de espera para operações, sem médicos, sem investigação, sem transportes dignos desse nome, enfim, sem governo...), decidiu aplicar-nos gratuitamente um género de eutanásia pré-natal?

Qualquer cidadão da Europa percebe que algo está pôdre no Reino da Tugalândia e é portanto natural que tenha decidido abnegadamente matar os pobres aspirantes a portugueses antes mesmo deles nascerem e se arrependerem...

Foi assim que descobri que os holandeses nos amam profundamente, mesmo tendo nós ficado à sua frente no Euro 2004...

A mais do que isto não chega a minha parca inteligência senão para recordar que já Camões dizia: «O dia em que eu nasci morra e pereça!». Infelizmente para o poeta e felizmente para nós, na época os holandeses matavam-nos doutra forma e noutras paragens, talvez inspirados por algum misterioso clarividente que já então sabia no que este país ia dar um dia e queria poupar as futuras gerações...

E o que é que isto tem a ver com jazz, pergunta o leitor deste blog?

Nada... Tem a ver connosco, portugueses, uma raça em vias de extinção por genocídio ou, talvez, suicídio colectivo. E tem, claro, a ver* com a nossa eterna forma de improvisar um país!

* Nota: se ouvirem um célebre pivot da RTP a dizer «tem a haver» não acreditem. A haver tem o merceeiro e é quando fia, o que já não acontece no tempo dos hipers e supers.


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