22 de outubro de 2004

Os castrados da FNAC

A pouco e pouco, a FNAC tem vindo a ser invadida por um conjunto de castrados. Esta casta, em notória ascensão, dificulta a vida a quem quer escolher um disco, azucrinando-nos a paciência até ao desespero.

Referimo-nos aos discos não cadastrados, isto é, não incluidos na base de dados que permite a audição nos pontos de escuta automáticos.

Pegamos neles cheios de esperança de os ouvir, sem que os cobardes se dignem sequer a dizer-nos que não têm pio. Ali vamos nós com eles, todos contentes e ingénuos, em direcção ao leitor de cd's embutido na parede, decididos a seleccionar um entre 3 ou 4, ou 5.

Estranhamente a parede não tem mais ninguém encostado a ela... O caminho está livre. Pegamos no primeiro CD, aproximamos o seu ventre (vulgo código de barras) da maquineta que o trespassa com uma rede encarnada de raios laser e... nada. O dito cujo não está cadastrado, ou seja, está inocente e não tem nada a dizer-nos pelo que não tuge nem muge.

Começamos a ficar ligeiramente aborrecidos mas, enfim, lá aproximamos o segundo CD da maquineta. Nada! O sacana é irmão do primeiro ou está feito com ele e também não abre a boca. Já irritados, aproximamos o terceiro CD do zingarelho, desconfiados que o gajo se está a preparar para nos passar a perna. NADA!

N-A-D-A-!

Irra, que é demais!

Dirigimo-nos já revoltados ao ponto de escuta manual, à procura de uma agente da autoridade que ponha o Castrado em ordem e a piar fininho para nós. Mas a autoridade está feita com os sacanas ea primeira coisa que nos diz é a última que queremos ouvir: "já experimentou o ponto de escuta automático?".

Já!!

"Ah, então é porque não está cadastrado".

Conclusão brilhante a dele mas que o ecran da maquineta já tinha disparado na nossa direcção minutos antes. Dispensável, portanto.

As mãos da autoridade sacam da faca e rompem o ventre do gajo, extraindo-o violentamente para a gaveta do leitor de CD's. Aquela lâmina afiada, manejada de forma decidida e violenta, acaba por deixar cicatrizes no corpo do dito cujo.

É aí que percebemos que mesmo que o gajo nos soe bem temos de voltar à secção para ver se ele tem um mano gémeo que não tenha sido trespassado pelo x-acto.

Gostámos do CD! Ok, dizemos ao agente que não o queremos, franzindo o rosto e esboçando um ar de enjoado para sermos mais convincentes, e deixamo-lo ali a jazer. O agente acredita porque nem gosta de jazz e portanto acha natural a repugnância que o nosso teatro mímico simula.

Vamos até à prateleira de onde o tirámos, mas era o único! Claro, a lei de Murphy.

Antes de cometer logo ali um crime que nos cadastre a nós, dirigimo-nos para a secção dos livros.

Ah!! Azar dos azares, o livro que escolhemos não tem preço marcado. Toca de ir ao balcão pedir à menina que nos diga quanto vale aquele monte de páginas que desafia a nossa paciência. Alguém à nossa frente tem uma lista de 25 livros que procura... e discute ponto por ponto com a dita menina. "Procure lá pelo título...". "Ah, não tem... então e se procurar pelo autor?". "Já experimentou pela editora?".

E assim se passa uma agradável tarde cultural...

Foi hoje. Podia ter sido ontem. É mais do que certo que será amanhã também.


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