11 de fevereiro de 2005

O equívoco de Faro Capital Nacional da Cultura no campo do Jazz

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JNPDI! soube hoje que na programação de Faro Capital Nacional da Cultura quanto a jazz só haverá lugar a grupos portugueses.

Não podemos de forma alguma discordar da necessidade de divulgar o jazz nacional, mas discordamos totalmente e frontalmente com a ostracização do jazz proveniente da sua pátria natural, os EUA. Ou mesmo de outros países da Europa.

Passamos a explicar.

1 - A ideia de eleger Faro, Coimbra ou o Porto como Capital Nacional da Cultura é naturalmente enriquecer a vida cultural dessas cidades, alargar o leque normalmente disponível de manifestações artísticas e colocar a população perante novas propostas culturais, a que de outro modo não teria acesso. Foi isso que sucedeu no Porto e em Coimbra, com uma desejável conciliação entre a cultura nacional e estrangeira, até porque a cultura nacional precisa de beber na estrangeira e Portugal só beneficia se a cultura estrangeira também vier beber à nossa e a conhecer e divulgar.

2 - Os grupos portugueses, graças aos festivais e concertos isolados que se têm realizado ao longo do tempo em Faro, Guia, Tavira, etc. já rodaram grande parte do Algarve e ou surgem com um repertório renovado ou arriscam-se a ter falta de público e de mediatização, algo que deveria fazer reflectir a organização desta Faro Capital Nacional da Cultura.

3 - Sendo o Algarve a principal região turística do país é desejável que se aproveite a presença de estrangeiros para divulgar o jazz nacional. Mas, também é verdade, que seria mais fácil captar os euros e dólares dos estrangeiros para grupos não portugueses, colocando por exemplo os grupos nacionais a dividir o palco com estes. Mais uma vez a solução deveria estar num compromisso entre o jazz nacional e o jazz estrangeiro.

Aliás, sobre a importância do Algarve como região turística, na sessão solene em que o Presidente da Câmara de Faro recebeu a imagem da Stª Isabel como símbolo de Coimbra ? Capital Nacional da Cultura de 2003 (ver foto) foi referido o seguinte pelo mesmo:

Foi uma recompensa justa para o trabalho sereno e sério desenvolvido, que enobrece e prestigia Faro e o Algarve. Deste modo, Faro assume-se cada vez mais com a sua verdadeira dimensão e condição de capital da maior região turística de Portugal, com esta distinção histórica, num projecto que será fortemente participado.

Perante estas afirmações é estranho que a programação, nomeadamente no campo do jazz, não seja mais direccionada também para o turismo, nomeadamente o jovem, o qual encontra hoje em nomes ligados ao smooth jazz uma grande atracção. Um Jamie Cullum, por exemplo, poderia ser uma boa aposta para conseguir o duplo objectivo de audiência e qualidade. Ou um Peter Cincotti, ou um Michael Buble. Ou no jazz instrumental, músicos de novas tendências e músicos do jazz mais mainstream.

Por outro lado, o público senior estrangeiro, que o há e muito (e com $ e apetência cultural), especialmente fora do período alto do Verão, não teria interesse em ouver (parafraseando José Duarte) orquestras do seu tempo?

4 - Passados os concertos o que fica? Pouco ou nada mais do que uma boa recordação. E poderia ficar mais? Podia. Podia se por exemplo se promovesse a fusão entre músicos portugueses e estrangeiros, fazendo com que os nossos tivessem oportunidade de aprender ainda mais e expandir os seus horizontes. A ideia é simples; contratar grupos de jazz estrangeiros, secções rítmicas por exemplo, e pô-las a tocar com solistas portugueses. Ou o inverso, secções rítmicas portuguesas com solistas estrangeiros. Isso sim, deixaria obra para além de 2005 e faria com que uma Capital da Cultura não fosse apenas por um ano, mas lançasse bases para ter uma base sólida de músicos e não só.

Quem souber por que razão as coisas se passam doutra forma que responda!

Quanto a nós as capitais nacionais da cultura têm obrigatoriamente de responder a três requisitos:

1 - ser pensadas para o público, expondo-o ao que há de melhor a nível nacional e internacional;

2 - ser abrangentes nas propostas a apresentar, sem sectarismos nacionais ou estéticos.

3 - contribuir para a formação de artistas nacionais.


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