27 de agosto de 2005

Villas-Boas merecia uma estátua!

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[Luís Villas-Boas e Duarte Mendonça, Jazz Num Dia de Verão, 1986]

Ficaram célebres as trocas de argumentos que Villas-Boas manteve na imprensa com os detractores do jazz, aos quais, não obstante a rudeza da linguagem e o carácter primitivo e racista do pensamento, sempre respondeu com a maior diplomacia e ironia, recorrendo a expressões como "estimado correspondente", isto quando certamente lhe apeteceria utilizar outras bem mais apropriadas...

Escolhemos um dos vários exemplos para que os leitores de JNPDI! possam mergulhar no ambiente do Portugal dos anos 40 que ainda olhava para o jazz de forma desconfiada.

O título do artigo de Villas-Boas é "O Jazz continua a ser discutido, insultado, defendido, exaltado" e aqui fica uma reprodução, ainda que não integral.


O leitor que nos escreve merece a nossa especial atenção por vários motivos, entre os quais destacamos a boa argumentação e a delicadeza, que a desobriga de ter de chamar doidos e anormais aos amadores do «jazz», para defender o seu ponto de vista.

Diz-nos ele:

Devo adverti-lo de que sou cem por cento anti-música de «jazz», e que também sou um rapaz novo; contudo, por factos diversos, eu mantenho esta atitude, em virtude de:

1.º) Não considerar o «jazz» suficientemente belo, para o poder apreciar (julgo que um Gene Krupa a bater. desenfreadamente num tambor não deve ser das coisas mais agradáveis de ouvir).

Resposta:

O facto de ser um rapaz novo não é condição «sine qua. non» para se gostar do «jazz». O gosto por este género de música manifesta-se em pessoas de todas as idades. Sobre o bater desenfreado de Gene Krupa confessamos que também não é muito do nosso agrado, mas, como isso não é «jazz», continuamos a gostar deste género de música.

2.º) «Sendo nós brancos, base da civilização mundial, porque fomos buscar a música de negros? E, sendo assim, temos que reconhecer que, estudando música de raças atrasadas, vamos contribuindo para um movimento retrógrado da civilização».

Há a considerar que o «jazz» não é a música dos negros de África, primitiva, pois, espontânea e não trabalhada, mas sim a dos negros da América, homens que à face da constituição dos Estados Unidos e da religião cristã são iguais (e têm mostrado sê-lo sempre que lhes dão uma oportunidade) aos brancos.

3.º) «Também concordaria que nos nossos postos emissores transmitissem «jazz», mas por amor de quem o senhor queira, reconheça que os vários postos ocupam em média, vinte e cinco por cento dos tempos de suas emissões, no qual transmitem música de «jazz». Seria lógico um pouco menos.

Ora veja: actualmente há apenas um programa de «jazz» na rádio portuguesa (que nós saibamos pelo menos) o «Hot Club», que R. C. P. transmite. Esse programa é semanal e de meia hora. Já vê...

E por aqui ficamos, estimado correspondente. Mais gostaríamos de dizer, mas o espaço opõe-se.

L. VILLAS BOAS


Nota: Infelizmente apesar da importância de Luís Villas-Boas para o desenvolvimento do jazz em Portugal, não se encontra na internet uma única fotografia do próprio, o que dá que pensar. E só desapareceu do mundo dos vivos em 1998...

JNPDI! está a ponderar, se para tal obtiver apoios, coligir num pequeno livro os textos de Villas-Boas na imprensa portuguesa e não só. É de elementar justiça.

1 Comments:

At segunda ago. 29, 01:04:00 da tarde 2005, Blogger Blogger said...

Santo Deus! Eu não teria paciência para aturar tais "insultos"! Há pessoas que não merecem estar a disposição de tal música celestial! Por mais que não se goste de um estilo musical, acho que não se deve meter racismo e insultos pelo meio! Agora me apercebo bem, da pessoa que foi Luís Villas-Boas! Não aquerdito que muitas pessoas amantes de conseguissem responder desta forma tão delicada! Merecia definitivamente uma grande homenagem!
Um Abraço caro colega!

Sax Jazz

 

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