25 de outubro de 2005

Kurt não foi uma curte por aí além...

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[Foto de João Moreira dos Santos]

A noite de Sábado apresentava-se como um dilema para qualquer amante de jazz: ir ouvir Toots Thilemans,valor seguro, ou Kurt Rosenwinkel, novo talento e, por isso, uma incógnita quanto ao resultado final.

Optámos por Rosenwinkel, interessandos em saber se a fama que o precede tem ou não correspondência com qualidade e criatividade.

Exímio tecnicista, o guitarrista não desagradou a quem gosta de ver e ouvir uma boa execução instrumental, para mais com rapidez no dedilhar e no débtio de escalas e não só.

Porém, a sua prestação esteve longe do que se esperava, pecando por excesso de técnica em detrimento de sentimento e sentido. As introduções que realizou a alguns temas roçaram o desinteresse e a repetição de ideias/licks. É um guitarrista pouco melódico e que nem sempre cria dinâmicas, algo que já em 1990 e 1991 se ensinava nos Cursos Internacionais Projazz, ouvindo atentamente Rufus Reid, Clark Terry ou Reggie Workman, por exemplo.

Não quer isto dizer que tenha sido um mau concerto, até porque estavam lá um excelente pianista (Aaron Goldberg), embora muito "tapado" pela lógica deste projecto musical, e um notável baterista, um dos mais solicitados na actualidade.

O saxofonista Chris Cheek, de quem muito se esperava, acabou por não deixar marca digna de grande nota.

Porém, só assistimos ao concerto das 21h00, pelo que o das 23h00 poderá ter introduzido dados que desconhecemos.

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[O pianista Aaron Goldberg no final do concerto - Foto de JMS]

Há, porém, que tecer algumas considerações justas sobre o Seixal Jazz:

1. - O Seixal Jazz é o festival mais completo de todos os que se realizam entre nós. Ou seja, é um verdadeiro happening e um verdadeiro projecto integrado de cultura e educação, com múltiplas manifestações e acontecimentos associados. Destas, destacamos o projecto que envolve as escolas (fundamental para a educação musical e para a criação de novos públicos) e os workshops (fundamentais para o desenvolvimento de competências nos jazzmen portugueses).

2. - O Seixal Jazz é sem dúvida o projecto com o melhor gabinete de imprensa, notando-se uma elevada profissionalização na relação com os media e uma adequada dotação de recursos.

3. - O Seixal Jazz é o único festival português que edita e publica livros e folhetos educativos e que gere uma colecção de merchandising, contribuindo para a sedimentação de uma imagem de marca. O Estoril Jazz pode aqui rivalizar com o Seixal Jazz, mas faltam-lhe os recursos financeiros para ir mais longe.

Por tudo isto, estamos em crer que os demais festivais podem e devem aprender com este evento cultural. Não temos qualquer dúvida de que o Seixal Jazz é hoje o que de mais parecido há com um festival de jazz do futuro e com o que já sucede lá fora. Com muita margem ainda para evolução, naturalmente, e tendo em conta que a realidade nacional não permite por vezes ir mais longe.

1 Comments:

At terça out. 25, 11:36:00 da tarde 2005, Anonymous Anónimo said...

Senhores: Acho que esta carta tem de ser divulgada para bem da
comunidade jazzística de Portugal.
Sou obrigado a dizer que discordo com a tua análise do concerto, mas opiniões são opiniões. Esta carta do público é mais do que uma opinião. É um desastre, e está no jornal de maior tiragem do país.
Espero que aproves, JMS.

Um abraço a todos

Filipe Melo



Subject: Carta do Guitarrista André Fernandes ao director do Publico (para publicação)

Exmos.Srs., escrevo para expressar o meu desagrado pela crítica escrita por Rui Horta Santos aos concertos do SeixalJazz na edição de hoje.

Assusta-me pensar que à medida que o tempo passa, a atenção dada às Artes, e particularmente ao Jazz em Portugal, caia nas mãos de pessoas sem qualquer capacidade crítica, ou formação específica.

Sendo directo:

O Sr.Horta Santos refere-se ao músico Kurt Rosenwinkel como um músico pouco original, e a quem falta encontrar uma "voz" própria. Qualquer músico estabelecido na nossa "praça" ou em qualquer outra parte do mundo poderá afirmar que este comentário é tão absurdo como dizer que Hall, Montgomery, Metheny ou Scofield não foram originais no seu tempo. Revela um desconhecimento total do instrumento em causa, e da sua história, para além de uma ignorância inaceitável do universo do Jazz actual. Isto não é uma opinião pessoal, mas sim uma afirmação universalmente reconhecida, e independente de gosto. Não espero que o Sr.Horta Santos goste ou desgoste do músico em causa, mas sim que o descreva de forma justa e correcta, coisa que não fez.
Em segundo lugar, o Sr.Horta Santos faz referência a dois músicos que teria a obrigação de conhecer, Joe Martin e Ari Hoening, comentando a sua prestação no concerto. Ora nenhum destes músicos tocou! Foram substituídos por Omer Avital e Eric Harland, outros dois músicos que é pena que o Sr.Horta Santos não conheça, ou reconheça ao ouvir tocar. Será que os ouviu?

Deveria ter a capacidade de perceber auditivamente que os músicos em palco não eram aqueles que pensava, e caso não fosse capaz, deveria pelo menos ter ouvido o líder do grupo a anunciar os nomes..
Eu falo com conhecimento de causa sobre este assunto, e penso que é deixar ir longe demais o desrespeito pelo Jazz e pelos músicos, permitindo que pessoas como o Sr. Horta Santos passem a escrever para uma publicação de prestigío como é o jornal Publico. O Sr.Horta Santos já escreveu várias asneiras sob o seu pseudónimo Abdul Moimême (?) em outras publicações, e fico muito preocupado com o seu futuro trabalho a nível nacional através do
Público.
O país merece ser informado, não enganado.

Sinceramente, André Fernandes.

Músico, docente na Escola de Jazz Luis Villas-Boas (Hot Clube), e gerente da editora Tone of a Pitch.

 

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