23 de março de 2008

Foi você que pediu uma licenciatura em Jazz?

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A Universidade de Évora acaba de anunciar a criação da licenciatura em Jazz, o que faz desta instituição, a seguir à EMAE, a segunda entidade a conferir este grau académico em Portugal. JNPDI! entrevistou Eduardo Lopes, responsável por este curso. Definitivamente, ninguém pára a evolução do Jazz entre nós!

JNPDI!: Como nasceu este projecto de criar na Universidade de Évora uma licenciatura em Jazz?

Eduardo Lopes: A Licenciatura em Música que a Universidade de Évora oferece é constituida por três áreas de especialização (às quais chamamos Ramos) com distintos planos curriculares: a Interpretação, a Composição e a Musicologia. O Jazz será então a quarta especialização a ser oferecida pela nossa Licenciatura já a partir do próximo ano lectivo.

A possibilidade de abrir um curso de Jazz no nosso Departamento de Música já germinava há cerca de dois anos. Vários factores levaram à criação deste curso. No entanto, eu diria que terá sido a criação da Orquestra de Jazz da Universidade de Évora (da qual sou director musical) que despelotou definitivamente o processo.

Desde o seu primeiro concerto dentro de portas, a OJUE tem recebido imenso apoio por parte dos alunos de música bem como da comunidade académica em geral, sendo frequentemente requisitada para concertos em várias instituições, bem como em eventos académicos. Foi então a vontade demonstrada por alunos de música em tocar ‘outras’ músicas, e a excelente recepção que a música Jazz teve na comunidade que nos fez arrancar com este curso.

JNPDI!: O mercado está suficientemente maduro para alimentar procura suficiente por este curso?

EL: É claro que toda a vontade demonstrada na resposta anterior para arrancar com o Jazz na UE não seria por si só suficiente para realizar a oferta de uma nova formação de nível superior. Teve também que se equacionar outros factores, um dos quais a procura de um curso universitário na área da música Jazz.

De momento no país só existe um curso a oferecer uma formação de nível superior na área do Jazz – este a funcionar na ESMAE na cidade do Porto. Sabe-se que este curso teve no ano passado cerca de três vezes mais candidatos a ingresso do que o número de vagas disponíveis.

É também conhecido que nos últimos anos tem aparecido um número bastante significativo de escolas de música particulares especialmente vocacionadas para o ensino do Jazz, muitas destas na região sul do país. Também, muitas escolas tradicionais de música (conservatórios, academias) começaram recentemente a oferecer cursos de Jazz. Pode-se então facilmente observar que já começa a existir um número significativo de alunos de Jazz a terem formação inicial, que muito justamente quererão prosseguir estudos a nível superior.

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JNPDI!: Qual a importância real de um músico de jazz possuir uma licenciatura? Que portas podem abrir-se com esta formação?

EL: A importância é imensa e tem implicações em várias áreas a vários níveis. O Jazz não é algo que caiu agora aqui, vindo do nada, que até é tocado numa cave algures, e que assim sendo temos então que fazer alguma coisa com este ‘objecto’.

O Jazz é um género musical, como tal é música, é uma forma arte, e como forma de arte é património da Humanidade. Como outras Artes e Ciências, o Jazz deverá ser uma área integrada nas instituições que promovem o estudo ao mais alto nível.

Este processo de integração do Jazz no meio académico foi uma batalha travada desde meados do século XX por músicos e estudiosos do Jazz, que queriam ver reconhecido o valor da sua expressão artística.

Este reconhecimento acabou por acontecer, estando bem patente na inclusão do estudo do Jazz nas mais prestigiadas instituições mundiais de educação – obviamente nos EUA, mas também por toda a Europa e também na Ásia.

Neste aspecto, a importância de um músico possuir uma licenciatura em Jazz, será a de no mínimo ser um espelho da importância do próprio Jazz na sociedade. Em relação às portas que se poderão abrir a um recém-licenciado em Jazz, serão seguramente mais do que, nas mesmas condições, para aquele que não é licenciado. Uma licenciatura em qualquer área de conhecimento serve como um atestado de que alguém estudou seriamente, durante um determinado momento, uma certa área de conhecimento, e que atingiu um determinado nível de exigência. Apesar de na arte, e em particular na música, haver imensos casos de excelentes músicos sem possuirem uma licenciatura, isto tenderá a ser cada vez menos com a crescente possibilidade de estudar música numa instituição de nível superior. Veja-se, por exemplo, os currículos dos músicos que integram as grandes orquestras ou agrupamentos internacionais: a esmagadora maioria são já músicos licenciados.

JNPDI!: O que é, em traços gerais, esta licenciatura?

EL: Será um curso que formará excelentes intérpretes de Jazz (no seu mais lato sentido, incluindo as suas vertentes mais contemporâneas) com sólidos conhecimentos teóricos.

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JNPDI!: Como foi concebido o respectivo programa curricular?

EL: O programa curricular do Ramo de Jazz foi baseado nos mais bem sucedidos programas que estão em vigor em Universidades estrangeiras, tendo sido levada em consideração a realidade nacional e o acordo de Bolonha.

Para além de acreditarmos que o programa curricular do nosso curso é capaz de formar músicos de Jazz de grande qualidade, tem também a vantagem de poder ser moldado de acordo com as necessidades de formação e eventuais linhas de orientação profissional/artística de cada aluno. O plano prevê uma quantidade razoável de disciplinas de Opção, as quais o aluno poderá escolher de um leque bastante alargado e que pertencem a outros Ramos do Departamento de Música.

Por exemplo, um aluno de Jazz poderá ter interesse em orquestração ‘clássica’; neste caso o aluno poderá frequentar uma disciplina sobre este assunto do Ramo de Composição. Outro aluno poderá ter um interesse na análise de música contemporânea, que o poderá ajudar em certos temas de Jazz mais contemporâneos; aqui, poderá frequentar uma disciplina de análise avançada do Ramo de Interpretação. Por outro lado, alunos doutros Ramos poderão também ter interesse em frequentar algumas disciplinas do Jazz; como por exemplo alunos do Ramo de Composição frequentarem como opção a disciplina Técnicas de Arranjo Jazz.

A forma como todos os nossos planos curriculares foram concebidos permite uma transversalidade pedagogicamente salutar entre as várias ‘músicas’.

JNPDI!: Foi fácil encontrar o corpo docente adequado às matérias?

EL: É um facto que neste momento em Portugal já existem músicos de Jazz de grande qualidade. O nosso corpo docente inclui dos mais prestigiados pedagogos e intérpretes de música Jazz que actualmente estão em Portugal. Penso que contamos com a equipa ideal para o que queremos oferecer.

JNPDI!: Quais as perspectivas para este curso? Poderemos a médio prazo ter um mestrado?

EL: As perspectivas não podem ser melhores; a realizarem-se, penso que poderemos a breve prazo dar outros passos, que poderão perfeitamente incluir uma oferta de um curso de mestrado. Também temos em carteira contactos a nível internacional com outras instituições de ensino superior de jazz, com as quais poderemos iniciar processos de cooperação e intercâmbio de alunos e docentes.

JNPDI!: Em que instalações e condições vai funcionar esta licenciatura?

EL: A Universidade de Évora está a finalizar o processo de aquisição do edifício da antiga Academia de Música de Évora. Este edifício tinha sofrido recentemente grandes obras de melhoria de instalações específicas para o ensino da música, como por exemplo salas insonorizadas e um auditório moderno. A aquisição a concretizar-se a tempo do próximo ano lectivo (como se prevê), não poderia ser melhor o início do novo curso de Jazz nas novas instalações.

JNPDI!: Quantos alunos esperam captar neste primeiro ano?

EL: Gostaríamos de admitir vinte alunos divididos pelos oito instrumentos que vamos oferecer (bateria, contrabaixo/baixo eléctrico, guitarra, piano, saxofone, trombone, trompete, voz).

JNPDI!: Quanto custam as propinas?

EL: As propinas para a licenciatura em Música eram o ano passado de 844 euros; o valor normal praticado nas universidades públicas portuguesas.


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